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09 - A história de um adeus

Já fazem anos, mas eu ainda me lembro muito bem. Ali estava eu, em meio àquele sepultamento. O pior lugar que eu pensei que pudesse estar, no pior dia que achava que pudesse viver. Eu estava tendo uma crise de choro, quando uma amiga me abraçou e mesmo sem saber muito o que dizer, ela sussurrou no meu ouvido as melhores palavras que eu poderia escutar naquele dia terrível, ela me disse: “Posso todas as coisas naquele que me fortalece” (Filipenses 4:13).


E esse consolo já se persevera há 13 anos.

O episódio que narrei fez parte do dia de uma perda muito grande na minha infância que inaugurou um período de muita dor. A morte da minha mãe foi súbita e inesperada, não me deu nem ao menos o direito de tentar me preparar. Essa perda não tirou de mim apenas a pessoa que eu considerava a mais importante naquele momento, mas mudou toda a vida que eu conhecia até então.


O processo de aprender a conviver com a perda foi longo, mas olhando para trás, hoje, vejo a tamanha graça e bondade de Deus em sua consolação e alívio com o fardo do luto e os pesos que vêm junto com ele. Quem sabe, nesse momento, você esteja lidando com algum.


Eu sentia o peso da minha autocobrança em ficar logo bem. Em apenas alguns dias depois da morte da minha mãe, eu decidi voltar para a minha vida comum. Eu fui a escola, eu participei dos ministérios da igreja, eu fiz tudo como se a tristeza de todo aquele acontecimento dramático rapidamente já tivesse ficado para trás. A verdade é que eu não conseguia me permitir tempo. Mas descobri que Deus é amor, e o amor é paciente (1ª João 4:8 / 1ª Coríntios 13: 4). Se o Amor é paciente comigo, será que eu também não poderia ser?


Eu sentia o peso do medo de sentir. Engoli lágrimas, reprimi emoções, chorei quase todas as noites daquele primeiro ano depois da perda, no meu quarto, abafando o choro no meu travesseiro, talvez pelo medo de ser vista como “coitadinha” e aceitar que eu ainda estava mal. Mas entendi que o próprio Jesus chorou (João 11:35). Em forma de homem Jesus não se poupou de experimentar nenhuma tristeza humana, pelo contrário, foi homem de dores, familiarizado com o sofrimento (Isaias 53:3). Será então, que eu também não poderia aceitar a minha humanidade?


Eu sentia o peso de me sentir só. Mesmo com tantas pessoas ao meu redor, a sensação que eu tinha muitas vezes era de solidão. Mas Jesus me ajudou a aliviar esse peso me dando novos relacionamentos. Amigos, irmãos, pessoas que com certeza não iriam substituir uma mãe, mas iam me auxiliar na amizade, no cuidado, nos ensinos, nos conselhos na minha nova realidade de vida, “pois não é bom que o homem esteja só” (Gênesis 2:18). Quando leio essa passagem eu entendo que ela expressa mais do que Deus estabelecendo o matrimônio entre homem e mulher, mas nos afirmando que não fomos feitos para caminharmos sozinhos.


Mas até hoje, ainda lidando com a falta, em alguns momentos eu me deparo com uma lágrima escorrendo no meu rosto. Ah, como eu a queria na minha formatura! Como eu gostaria que ela estivesse presente no meu casamento! E quando eu tiver os meus filhos, como vai ser? Mas sabe de uma coisa, Jesus me afirma que está tudo bem. Eu posso me entristecer com essas coisas, mas pela graça de Deus eu também “posso todas as coisas naquele que me fortalece”.


Por Jeane Chaves Ramos

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