"Disse Deus: Não é bom que o homem esteja só". (Gênesis 2:18)
Quando lemos essa passagem, é possível vermos além da narrativa de Deus estabelecendo o matrimônio, mas também uma afirmação séria de que nós, seres humanos, não fomos feitos para caminhar sozinhos. Fomos criados para relacionamentos!
Chama a atenção que, na história da Criação, sempre encontramos Deus contemplando a Sua Obra e, em seguida, a afirmação "e viu Deus que era bom". A única vez que encontramos uma negativa é quando Ele reprova a solidão do homem, "não é bom que o homem esteja sozinho". Isso é mais do que sobre casamento (é também!), mas ainda é sobre amizade, irmandade e família em Cristo!
E depois vem Jesus, cheio da plenitude da vontade de Deus a exata expressão do Pai, e ensina seus discípulos a irem de dois em dois (Lucas 10:1). Faz a promessa de que onde dois ou três estiverem reunidos, Ele se fará presente (Mateus 18:20). Que se dois concordarem em terra sobre qualquer assunto, isso lhes será feito pelo Pai (Mateus 18:19). Nos chama de ovelhas (sobrevivem em rebanho), ramos de uma mesma Videira (João 15:5). Nos faz membros de um só corpo. Nos traz a identidade de filhos (João 1:12), e logo somos irmãos de uma mesma e grande família.
Infelizmente, o individualismo crescente na nossa sociedade tem afetado a prática da comunhão também entre os cristãos, apagando cada vez mais do nosso meio a beleza dessa disciplina espiritual. É claro, estamos em meio à pandemia, de uma doença que exige o distanciamento social, mas a questão é que o momento contribuiu em trazer à tona com mais clareza uma falha que, antes disso tudo, já havia e precisava ser reavaliada por nós.
Além do mais, temos constantemente atrapalhado, misturando e confundido individualidade com individualismo, o que são duas coisas diferentes. A individualidade é o conjunto de características ou qualidades que tornam uma pessoa única e diferencia das outras. Já o individualismo, poderíamos dizer que é pegar essas características e diferença pessoal e colocá-las como superiores aos outros, como intocáveis. Dessa maneira, nos isolamos em nós mesmos para não permitir que isso que há em nós, que consideramos superior, seja ferido por algo ou alguém.
“Assim como o ferro afia o ferro, o homem afia o seu companheiro”. (Provérbios 27:17). Quando rejeitamos a comunhão, estamos abrindo mão de uma grande oportunidade para sermos moldados a cada dia. Lidar com a diferença do outro é antes de tudo um desafio pessoal, nos confrontar com comportamentos alheios e coisas nas quais nós também precisamos melhorar, é pagar o preço de sermos um. É um exercício de perdão, arrependimento, humildade e renúncia para que, juntos, possamos adentrar num nível mais profundo de aproximação à imagem de Cristo e experiência do Seu amor.
“(...) e oro para que vocês, arraigados e alicerçados em amor, possam, juntamente com todos os santos, compreender a largura, o comprimento, a altura e a profundidade, e conhecer o amor de Cristo que excede todo conhecimento, para que vocês sejam cheios de toda a plenitude de Deus. (Efésios 3:17-19).
O Espírito Santo que habita no cristão o impulsiona à comunhão! Ainda que como pessoas diferentes tenhamos maneiras distintas de nos relacionar, uns mais falantes, outros menos, uns extrovertidos, outros mais contidos em si. Mas é na comunhão que encontramos encorajamento, consolação, confronto, suporte... viver distante disso é desviar do plano original para o qual Deus nos chamou: a sermos família! Pois “não é bom que o homem esteja só”.
Fomos antes de tudo criados para Deus, mas necessariamente uns para os outros.
Por Jeane Chaves Ramos
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