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Foto do escritorDanielli Cadore

Mulheres e a história da igreja

Historicamente as mulheres são a maior parte dos cristãos, isso se aplica tanto ao passado como ao presente. Porém quando consultamos os livros de história da igreja temos a impressão de que nós somos quase inexistentes. De maneira que as pessoas citadas e homenageadas são majoritariamente homens.


A história da mulher dentro da igreja cristã não foi diferente do restante da história da do mundo, para a história o feminino sempre foi deixado de lado. A história da igreja que deveria ser a mais bela já narrada, seguindo o exemplo da história de Jesus Cristo, porém é repleta de falhas. Pessoas falharam, mesmo quando compartilhavam a comovente história de Cristo, erraram impondo sua própria interpretação da Bíblia, quando valorizaram as tradições e os costumes mesmo quando estes iam contra o ensino amoroso de Cristo, quando julgaram e muitas vezes mataram em nome de Deus.[1]


Os testemunhos destas mulheres, assim como a sua história, de perseverança e amor não devem ser esquecidos, muito menos serem vistos como coadjuvante na história do cristianismo, como ocorreu no período da reforma. As perseguições enfrentadas, como na inquisição, não podem ser esquecidas. Somente compreendendo o que aconteceu com elas compreenderemos a forma que o feminino é visto na atualidade.[2]


Para entender a figura feminina nas comunidades cristãs é importante destacar que, em período anterior, ou seja, no início da história do povo de Israel e no período da monarquia. Em todas as sociedades da época, as posições de poder eram predominantemente masculinas, pertencendo aos homens sábios que regiam a liderança como juízes e administradores, líderes militares e religiosos. Após a instituição da monarquia a figura, masculina do rei assumia a posição no topo da hierarquia social, sendo este o poder máximo na sociedade da época.[3]


Da mesma forma no Israel do tempo bíblico os homens eram nitidamente mais importantes do que as mulheres, o chefe da família, que costumava ser o pai ou o homem mais velho governava todo o grupo familiar, tomando as decisões que julgava mais corretas. As mulheres, dentro desta estrutura patriarcal eram pouco ouvidas, isso quando tinham a oportunidade de opinar.[4]


Somente é possível compreender a importância da mulher e o seu papel na comunidade cristã primitiva quando o contexto social e cultural da época é levado em consideração. De maneira que a comunidade cristã não estava isolada do contexto social da época.[5]


Porém, mesmo em meio a uma circunstância social desfavorável é irreal conceber que as mulheres não tiveram uma participação maciça nas primeiras comunidades. Sua participação não foi passiva, mas enérgica.[6] A carência de relatos sobre a participação efetiva da mulher no início do cristianismo, não deve levar a conclusão de que seu papel era secundário. Para Capossa “é apenas o texto escrito que temos diante dos olhos, respirando a ideologia a tendência da sua época; outra coisa é o que teria acontecido de fato. Os textos que temos excluíram ou eliminaram, com certeza, muitas realidades”.[7]


Enquanto as histórias e a história de muitas mulheres dos primórdios do cristianismo primitivo não forem concebidas teologicamente como partes integrantes da proclamação do evangelho, continuarão a serem opressivos para as mulheres.[8]


Segundo Teixeira, é importante destacar que as palavras de Jesus perpassam pelos escritos redigidos por homens, influenciadas pela cultura, religião, costumes. Valendo afirmar dentro da perspectiva do tema “mulher” que este não fica isento da influência e interpretação dos autores neotestaméntarios e da comunidade cristã primitiva. Uma vez que se encontravam em um momento histórico legalmente e culturalmente discriminador.[Sendo assim é considerado de suma importância conhecer a realidade em que as mulheres estavam inseridas nas primeiras comunidades cristãs, só assim será possível perceber a força que essas mulheres tiveram, não se acovardando diante da opinião depreciativa da época, provando que seu gênero não as impediria de servir a Cristo.[10]


Por Danielli Cadore




Referências: [1] ALMEIDA, Rute Salviano. Vozes femininas no início do cristianismo. São Paulo: Hagnos, 2017. p.22 [2] ALMEIDA, 2017. p.22 [3] FERNANDES, Larissa. Mulheres no cristianismo primitivo. JOINTH, Paraná, v. 3, n. 1, p.26-35, 2014, p. 28. [4] CAPOSSSA, Romão Felisberto Joaquim. A mulher na comunidade do Discipulo Amado e sua dinâmica evangelizadora, a partir de João 4,1-43, tendo em conta os aspectos sociais, políticos econômicos e religiosos. São Leopoldo: EST – Dissertação de Mestrado, 2006. p. 34. [5] TEIXEIRA, José Luiz Sauer. A atuação das mulheres nas primeiras comunidades cristãs. Revista de cultura teológica, São Paulo, v. 18, n. 72, out/dez 2010, p.56-57. [6] CAPOSSSA, 2006, p. 34. [7] CAPOSSA, 2006, p. 34. [8] CANDIOTTO, Jaci de Fatima Souza. Teologia na perspectiva das relações de gênero: a contribuição da Hermenêutica Bíblica. Rio de Janeiro: PUC-RJ, 2008. Disponível em: <https://www.maxwell.vrac.pucrio.br/ Busca_etds.php?strSecao=resultado&nrSeq=1213 6@1&msg=28#>. Acesso em: 15 mai. 2018, p. 62. [9] TEIXEIRA, 2010, p. 58. [10] ALMEIDA, 2017, p. 331.

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