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A filha de Jefté – O perigo das promessas

Foto do escritor: Danielli CadoreDanielli Cadore

Promessas impensadas produzem frutos indesejados

"E Jefté fez esse voto ao Senhor: ‘Se entregares os amonitas nas minhas mãos, aquele que vier saindo da porta da minha casa ao meu encontro, quando eu retornar da vitória sobre os amonitas, será do Senhor, e eu o oferecerei em holocausto’. Então Jefté foi combater os amonitas, e o Senhor os entregou nas suas mãos. (...) Quando Jefté chegou à sua casa em Mispá, sua filha saiu ao seu encontro, dançando ao som de tamborins. Ela era filha única. Ele não tinha outro filho ou filha. Quando a viu, rasgou suas vestes e gritou: ‘Ah, minha filha! Estou angustiado e desesperado por tua causa, pois fiz ao Senhor um voto que não posso quebrar’. ‘Meu pai’, respondeu ela, ‘sua palavra foi dada ao Senhor. Faça comigo o que prometeu, agora que o Senhor o vingou dos seus inimigos, os amonitas.” Juízes 11.30-32; 34-36


A história da filha de Jefté pode ser encontrada no capítulo 11 do livro de Juízes, e começa dando destaque ao seu pai. Jefté foi um dos juízes de Israel, e o texto bíblico conta, entre outras coisas, que ele era um guerreiro valente, a ponto de, quando os amonitas entraram em guerra contra Israel, os líderes da região de Gileade se reuniram para chamar Jefté para ser seu comandante na batalha, função que Jefté aceitou em troca de ser chefe de todos que viviam em Gileade.


Jefté, a caminho da batalha, fez um voto irresponsável ao Senhor, prometendo que, se o Senhor entregasse os amonitas em suas mãos, ofereceria em holocausto o primeiro que saísse de sua casa ao retornar da vitória. Jefté foi vitorioso, porém, ao retornar para casa, a primeira pessoa a sair e ir ao seu encontro foi sua única filha. Quando a viu, Jefté desesperou-se por ter feito o voto.


A filha de Jefté resignadamente aceitou que o pai fizesse com ela o que havia prometido ao Senhor, apenas pedindo para ele um período de dois meses em que pudesse vagar pelas colinas e chorar com suas amigas, pois jamais poderia se casar. Passado os dois meses, a filha de Jefté retornou, e seu pai fez com ela o que havia prometido.


Os ensinamentos da filha de Jefté

Adorar a Deus nos termos de Deus

Nessa história podemos ver uma promessa irresponsável e inconsequente que lembra muito a forma como os deuses pagãos eram adorados. Jefté se deixou contaminar pela cultura pagã e reproduziu uma forma pagã de culto quando fez um voto de sacrifício humano ao Senhor. As consequências desse voto são desastrosas, e ele acaba sacrificando sua única filha. Essa história nos ensina que devemos adorar ao Senhor nos termos do Senhor. Deus não deve apenas ser adorado, mas deve ser adorado da forma que lhe é agradável. Nesse momento eu te convido a refletir sobre a forma que você tem adorado a Deus. O que Deus está te pedindo que você não está fazendo? O que você está fazendo com a intenção de agradar a Deus, mas que na verdade desagrada a Ele?


Existe tempo para chorar

A filha de Jefté, quando descobre o que aconteceria com ela, pede tempo para chorar e prantear, e isso nos aponta que existe um período em que nós devemos chorar. Nossa cultura trata o sofrimento de duas maneiras diametralmente opostas, mas semelhantemente equivocadas. A primeira delas é ignorar o sofrimento, e a segunda é supervalorizar o sofrimento. No Senhor, precisamos compreender que existe um tempo para chorar, mas que também existe um tempo em que o choro cessa. Nós não podemos viver ignorando sentimentos e problemas achando que eles vão sumir, mas também não podemos viver os amplificando e permitindo que eles governem a nossa vida. Precisamos encontrar sabedoria no Senhor para discernir o tempo do choro e encontrar força para discernir o tempo de seguir em frente.


Chorar com quem chora

É muito interessante perceber que a filha de Jefté não sofre sozinha, mas chora com suas amigas. Isso nos ensina a chorar com aqueles que choram, e reforça a verdade de que não fomos criados para viver sozinhos, mas em comunidade. Muitas vezes é através da amizade de pessoas tementes a Deus que recebemos consolo. Essa é uma entre muitas histórias bíblicas que nos mostram pessoas que não sofreram sozinhas, mas que compartilharam o seu sofrimento, o que vai de encontro ao que a sociedade atual ensina, sobre “ser forte” e sofrer em silêncio. Que o orgulho não ocupe o lugar que deveria ser ocupado pela humildade de reconhecer que caminhar sozinho é muito mais difícil, e que por isso Deus nos chama a uma vida em comunidade. 


A história dessa mulher nos mostra como uma ação impensada gera consequências, e como uma adoração inadequada ao Senhor produz amargos frutos e sofrimento. Além disso, nos ensina como, diante do sofrimento, nós precisamos reconhecer o tempo de chorar e ter um coração vulnerável, para não chorarmos sós, mas darmos a oportunidade de nossos irmãos chorarem conosco. 






Referências base:

BÍBLIA DE ESTUDO DA FÉ REFORMADA. Tradução de João Ferreira de Almeida – Edição Revista e Atualizada. São Paulo: Editora Fiel, 2021.

WALTON, John. Comentário histórico e cultural da Bíblia: Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2018.

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